Em reunião reservada com o presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, a presidente Dilma Rousseff demonstrou sua “indignação” com os
casos de espionagem a cidadãos brasileiros, inclusive de autoridades.
Ela também manifestou ceticismo com as promessas americanas para a
resolução do problema e aguarda um contato de Obama na próxima
quarta-feira.
Nas palavras de Dilma, ele assumiu a
responsabilidade direta e pessoal pela apuração do caso. "Eles vão me
informar primeiro o tamanho do rombo”, disse a presidente, que exige que
os Estados Unidos revelem todos os dados que foram acessados do Brasil.
A
presidente afirmou que não irá a Washington "se não houver condições
políticas". Ela participaria de uma visita de Estado aos EUA no dia 23
de outubro, mas pode cancelar sua viagem, o que demonstra um gesto
diplomático de insatisfação.
Na entrevista coletiva concedida em
São Petersburgo, na Rússia, ao final do encontro da cúpula dos líderes
do G20, Dilma cobrou ainda resposta imediata sobre o caso. "Não quero
esclarecimentos técnicos e não quero desculpas", afirmou. Um dos casos
que mais irritou o governo brasileiro foi a reunião inconclusiva entre o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o vice-presidente
americano, Joe Biden, na semana passada.
A presidente também
rechaçou o argumento dos EUA de que a segurança nacional e o combate ao
terrorismo seriam razões para sua politica de inteligência. Segundo ela,
o Brasil não possui conflitos étnicos nem abriga grupos terroristas, e
esses fatos "jogavam por terra qualquer justificativa que tais atos (de
espionagem) tinham a ver com segurança nacional".
Monitoramento
Reportagem
veiculada no último domingo pelo programa Fantástico, da TV Globo,
afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da
Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados
Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos
de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos
está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de
caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e
do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à
presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome
de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho
que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no
entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear
e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP
(código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos
de mensagens ou ligações.
Espionagem americana no Brasil
Matéria
do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em
trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela
Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security
Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após
denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA
teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma
empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de
comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de
diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de
redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem
da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma
das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria
com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo
menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada
do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em
Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a
diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O
ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País
reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos,
Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território
brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas
brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o
governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País
violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia
Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o
caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação
política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou
que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O
projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em
apreciação pela Câmara dos Deputados.
Fonte:JB.com.br
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