Rio - Os cariocas que sonham em ver os filhos em posições de destaque nas universidades e no mercado de trabalho precisam investir pesado na educação. As mensalidades das dez instituições privadas do Rio que obtiveram o melhor desempenho por escolas no mais recente Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) podem apresentar variação de R$ 2.440. Interessados em matricular o filho na escola mais cara teriam que desembolsar o equivalente a quase quatro salários mínimos, que hoje está em R$ 678.
A menor mensalidade no ranking, encontrada na Escola Bretanha Tio Careca, na Ilha do Governador, é de R$ 1.045 para o Ensino Médio, enquanto a maior, a do Colégio pH, é R$ 3.485 para preparar os alunos para o vestibular. Os valores descritos foram os informados aos pais. As duas escolas não revelaram o que cobram para O DIA.
É preciso ressaltar que, por trás de bons resultados, existe uma equipe de professores que trabalha duro para conquistar a nota dez. Entretanto, nem sempre eles são valorizados e recebem salários baixos em relação às mensalidades.
No tradicional Colégio de São Bento, primeiro na lista das melhores escolas, o professor recebe cerca de R$ 60 por hora trabalhada; no Colégio Cruzeiro, terceiro lugar no ranking, R$ 55. Os professores mais requisitados, aqueles com especializações e até títulos de mestre e doutor, podem receber R$ 80 pela hora, com salários que chegam a R$ 7 mil.
No Município do Rio, o Sindicato dos Professores (Sinpro-RJ) estabelece que um professor do terceiro ano do Ensino Médio, em uma turma com mais de 35 alunos, deve receber R$ 14,08 a hora trabalhada.
Apesar de a maioria das escolas particulares pagar acima do piso municipal, ainda é muito pouco, avalia Wanderley Quêdo, presidente do sindicato. “As escolas privadas cobram valores absurdos e remuneram mal o professor. Pagam acima do piso, mas não acompanham o valor das mensalidades”, critica.
Preocupado com o rumo do ensino particular, Quêdo alerta que algumas instituições deixam a educação de lado. “As escolas estão se especializando em ranking e deixando os projetos pedagógicos em segundo plano. A Educação de qualidade não é isso. A formação do aluno, enquanto cidadão, é mais importante do que notas e aprovações no vestibular”, ressalta o presidente do Sinpro-RJ.
Pais preferem as mais tradicionais
Atenta e preocupada com a formação do filho, a empresária Isabela Affrossimow pesquisou muito antes de matricular Gustavo no colégio. Ela conta que, antes da escolha, fez uma minuciosa investigação entre todas as escolas particulares e optou por aquela que apresentou o melhor projeto. “Resolvi escolher o Colégio Cruzeiro porque é uma escola tradicional e oferece uma estrutura de ensino excelente, além da formação cidadã, que ensina valores aos alunos”, conta.

Acompanhada do filho, que inicia neste semestre o Ensino Médio, Isabela aprova o método do Cruzeiro | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
A pedagoga Rosany Cristina de Almeida confirma que a postura da mãe foi correta. Ela ressalta que o ideal é buscar uma escola que seja compatível com os ideais da família, além de se enquadrar no perfil do aluno. “A dica principal é o pai não se guiar apenas por mensalidades e rankings, que nem sempre estão atrelados à qualidade do ensino oferecido”, explica.
Preços refletem na qualidade
Com a mensalidade mais alta entre as escolas particulares na lista das melhores do Enem, o Colégio pH aposta na infraestrutura e remuneração do professor para levar alunos às vagas mais disputadas das universidades. “O salário que pagamos é acima do mercado. Sabemos que boa remuneração motiva o profissional e apostamos nisso para ter ensino de qualidade”, conta Rui Alves, diretor de ensino do pH.
A professora Christiane de Salles Lopes matriculou a filha Beatriz no colégio no primeiro ano do Ensino Médio tendo em vista os resultados. “Foi um sacrifício, mas valeu cada centavo. Minha filha se formou em 2012 e já foi aprovada para Enfermagem na Uerj”, comemora.
No São Bento, primeiro no ranking, pais economizam R$ 1.026 em relação ao pH. O diferencial fica por conta de formação menos técnica, voltada para o ensino humanístico, com aulas de história da arte e filosofia, por exemplo.
Atenção na hora da escolha
PROJETO PEDAGÓGICO
Para a pedagoga Rosany Cristina de Almeida Garcia, o projeto pedagógico precisa ser observado na hora da escolha do colégio e tem que estar de acordo com o que o pai busca para o filho. “Os pais devem conhecer a escola. Não apenas visitar, mas ir ao colégio e buscar dados e informações relevantes sobre o método de ensino da instituição”, observa.
FORMAR CIDADÃOS
O especialista em ensino Paulo Estrella acredita que a função da escola não é apenas preparar para o vestibular, mas também formar cidadãos. “A dica é escolher uma instituição não só pela média do Enem, mas principalmente pelo que a escola tem de diferencial a oferecer”, diz.
CRITÉRIOS DE ESCOLHA
De acordo com o especialista, a filosofia da escola deve estar de acordo com o que os pais e o aluno desejam. “Se querem boa colocação no vestibular, escolas preparatórias são preferenciais, mas se desejam uma formação mais ampla, voltada para a cidadania, devem buscar escolas tradicionais e estudar o projeto pedagógico e as orientações políticas e religiosas”, explica.
RELAÇÕES INTERPESSOAIS
Além de conhecer os princípios da escola, os pais devem ficar atentos ao ambiente. “É preciso observar o espaço de convivência e se o filho vai se adequar a ele. O colégio é um espaço complexo e as relações que se desenvolvem lá são de grande importância para a formação da criança e do adolescente”, afirma Rosany.
BEM-ESTAR
Segundo Paulo Estrella, é importante que o aluno se sinta bem na escola, o que inclui a relação com os amigos e professores, a infraestrutura do colégio e a adaptação ao método de ensino. “A melhor relação custo-benefício está na qualidade da educação, assim como no bem-estar da criança ou adolescente”, conclui.
Reportagem : Bruno Serra - Odiaonline
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