Além do cofrinho, dar mesada aos filhos, sobretudo quando eles atingem
um certa idade, pode ser outro meio interessante de passar para os
filhos o valor do dinheiro. A quantidade limitada e garantida de
recursos para as crianças pode ser um instrumento de educação financeira
para o resto da vida. No entanto, muitos pais ainda possuem dúvidas
sobre o melhor momento de conceder o benefício, o valor ideal e a
frequência em que deve ser dado.
Maturidade da criança e condição da família devem ser levadas em conta FOTO: JL ROSA
Segundo
os educadores financeiros Reinaldo Domingos e Mônica Salles, depende
bastante da maturidade da criança e do estilo de vida da família, mas em
geral na faixa de 7 e 8 anos é o melhor período, pois é a idade em que
as crianças começam a ser alfabetizadas e passam a lidar mais
intensamente com números. É bom quando a criança também pede ou sugere,
assim valorizam mais, ficam mais receptivas às orientações e sentem que
estão conquistando algo.
Mas como definir uma quantia? Conforme
Domingos, não há valor definido ou fórmula que funcione adequadamente
para todos os perfis de famílias. "Os pais devem observar as
possibilidades de seu orçamento, os hábitos da criança e da casa e, a
partir desse ponto, buscar um parâmetro para iniciar. Para facilitar,
podem começar anotando tudo que ela pedir de dinheiro durante 30 dias,
depois ao fim do mês somar e fechar um valor", orienta. Porém, fala, é
importante ressaltar que mesmo que haja a possibilidade de dar uma
mesada alta, isso deve ser evitado. "Pode-se dar a metade do valor
encontrado para o mês e explicar que aquele dinheiro é para o mês todo",
afirma.
Escassez x fartura
Em termos de
educação financeira, orientam ainda os especialistas, a escassez ensina
mais do que a fartura e, em caso de eventual aperto financeiro da
família, as crianças não sentirão tanto. Outra dica interessante é que
os pais conversem com os pais dos amigos mais próximos de seus filhos e
tirem uma média, um valor parecido, assim não fica uma quantia tão
exorbitante, mas também não frustra a criança com uma soma que seja
muito baixa.
Além do valor, devem ser combinadas, acompanhadas e
respeitadas pelas duas partes a periodicidade e as regras de pagamento e
utilização.
"Com uma determinada quantia em mãos, a criança, ou o
adolescente, vai ter noção do que pode ou não pode ter com os recursos
que ganha. Vai perceber também que economizando e guardando dinheiro,
vai poder realizar seus desejos e sonhos. Isso é importante para que
adquira uma cultura de poupança. Daí quando receber seu o primeiro
salário ela já vai ter esse hábito. Não gastará tudo", explica Reinaldo
Domingos.
A importância de poupar
"O
jovem vai entender que se gastar tudo não vai ter mais, vai fazer falta
para outras coisas. Por outro lado, se economizar vai ver quanto poderá
ter em uma semana, um mês ou em até um ano", acrescenta Mônica Salles.
"Mas claro que ele precisará da orientação dos pais, que devem definir
metas e cobrar de forma correta. Dar autonomia, mas também acompanhar",
emenda.
Relação com o consumo também deve ser abordada
Quando
se fala em educação financeira, tão importante quanto o hábito de
poupar deve ser também a forma adequada de consumir. Mas como a relação
da criança e dos mais jovens com o consumo deve ser trabalhada? "Mais
uma vez, tudo vai depender do exemplo passado pelos pais. Só assim o
valor do dinheiro será assimilado pelos filhos", explica a planejadora
financeira, Mônica Sales.
Conforme o consultor Reinaldo Domingos,
não adianta o pai não economizar e querer que o filho o faça. "É
preciso mostrar que cada ação de desperdício terá efeito direto no
bolso. Que adianta você apagar uma lâmpada se a criança vem atrás e
acende dez. Então, se deve mostrar que economizando energia, por
exemplo, sobra mais dinheiro para realizar os sonhos não só dela mas
também de toda a família, e de forma mais rápida", ensina.
Participação ajuda
Assim,
fazer com que a criança, sobretudo à medida que ela vai crescendo,
participe da vida financeira da família vai ser fundamental para atingir
esse objetivo. "Pode-se mostrar as contas não só de luz, mas também de
água e de outros gastos que variam para que os filhos entendam que,
economizando em um ou mais itens, vai sobrar mais dinheiro para outras
coisas e, inclusive, também para guardar". Além de incentivar a não
desperdiçar, emenda Mônica Salles, os pais podem mostrar a seus filhos
que itens mais caros podem ser perfeitamente substituídos por outros que
fazem o mesmo efeito e que custam menos.
Educação de Isadora começou aos 3
Dinheiro
não cai do céu e exige esforço e tempo para ganhar. Embora Isadora
tenha apenas seis anos de idade, é essa a lição que já recebe dos pais,
Eduardo e Íris Linhares. Segundo ele, quando ela tinha três anos ganhou
seu primeiro cofrinho do avô e passou, então, a juntar as moedinhas que
recebia. A noção de poupança foi acompanhada também de lições sobre
consumo. "Nessa mesma idade demos um jogo que tinha cédulas, simulando
compras", destaca.
O
pai, Eduardo, é contador e professor; a mãe, Íris, é psicóloga; suas
formações ajudam a preencher a falta de ensino financeiro nas escolas
FOTO: LUCAS DE MENESES
Embora a escola não trabalhe
diretamente a questão da educação financeira com os alunos, Eduardo
conta que, por ser contador e professor, e Íris, psicóloga, eles
procuram colaborar diminuindo essa lacuna. "A educação financeira está
diretamente ligada com a felicidade e a realização de cada um. Se a
criança tem essa noção desde pequena, ela vai se realizar mais
facilmente na vida adulta", destaca.
Nesse sentido, reforça, o
exemplo deve vir de casa. "A Isadora nos vê trabalhando muito. Mesmo com
apenas seis anos, ela já compreende que para ter dinheiro é preciso
esforço, a fim de que possamos sustentar a casa. Somos resolvidos
financeiramente, não temos dívidas, não damos um passo maior que as
pernas e queremos passar esse comportamento para ela", afirma Eduardo.
Conforme
disse, o casal procura mostrar para a filha a noção do que custa caro
ou barato e que para que possa comprar o que gosta precisará dispor do
que tem guardado no seu cofrinho. "Apesar de ela não saber ainda o preço
das coisas, ela já percebeu que o seu limite é o que tem no cofrinho.
Se precisar usar tudo que tem lá dentro, ela acha caro e não quer gastar
todo o seu dinheiro. Até porque precisará de muito tempo para enchê-lo
novamente", relata. "Tanto que hoje em dia ela não insiste tanto e a
gente está sempre orientando", emenda.
Retorno no futuro
Ainda
segundo Eduardo, assim ela vai criando a noção de poupança. "Acho que
no futuro dificilmente ela será compulsiva", comemora. "O fato é que a
sociedade cobra, segrega em relação ao consumo, para que as pessoas usem
marca tal, produto tal, e a gente explica para a Isadora que não é
assim. Isso é superficial e só traz infelicidade quando não se tem.
Quando se é resolvido financeiramente, tem-se o que precisa sem dívidas,
e quero que minha filha cresça nesse ambiente. Ela não precisa de
excessos para ser feliz", expõe.
Escolas têm papel fundamental
O
desafio de ensinar aos mais jovens o valor do dinheiro e a como lidar
com ele de forma correta não se configura como um desafio apenas dos
pais, mas também de governos e escolas. Não é à toa, chamam a atenção os
especialistas, que o tema venha se desenvolvendo de forma mais intensa
em países como Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália, Nova
Zelândia e Coreia do Sul e, no Brasil, foi fortalecido no fim de 2010
com a criação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), pelo
Governo Federal.
Projeto
de lei tramita no Congresso para incluir oficialmente a educação
financeira no currículo escolar nos ensinos fundamental e médio FOTO:
KLÉBER ALVES
A partir dessa estratégia, foi implantado um
projeto piloto em escolas públicas e os resultados foram avaliados de
forma positiva em 2011. Um dos desdobramentos da experiência foi a
instalação de um grupo de apoio pedagógico que, de acordo com o
Ministério da Educação, discute a validação de materiais pedagógicos de
educação financeira elaborados para os nove anos do ensino fundamental e
também para o ensino médio. Mas talvez, mais forte seja um projeto de
lei que tramita no Congresso Nacional para incluir oficialmente a
educação financeira no currículo escolar nos ensinos fundamental e
médio.
O documento propõe que o tema integre o currículo de
matemática. Entretanto, especialistas no assunto defendem que a educação
financeira seja trabalhada de forma transversal, incluída em diversas
disciplinas.
Em tramitação desde 2009, o Projeto de Lei Nº
171/09, apresentado na Câmara dos Deputados, está na Comissão de
Educação do Senado e aguarda para entrar na pauta.
Mais flexíveis
Enquanto
isso, na rede privada de ensino, a educação financeira vem ganhando
mais espaço porque as instituições tem mais flexibilidade no currículo.
Um exemplo sobre a implantação do tema é da consultoria Dsop Educação
Financeira, que atende a mais de 500 escolas particulares em todo o País
com a capacitação de professores e a distribuição de material didático.
Fonte:Diariodonordeste.com.br
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